Já li muitos livros de psicologia e todos eles tratam,
quase sempre, dos mesmos temas como personalidade, caráter, inteligência,
memória, aprendizado, atenção, QI, pensar, sentidos, percepção, instinto,
condicionamento, etc. e etc.
Todos são temas abordados nos livros de Psicologia, com
alguma variação no trato, mas na essência, abordam sempre o conceito clássico,
sem acrescentar muito coisa além do que já foi abordado pelos predecessores da psicologia.
Agora, lendo o livro “Psicologia Prática no Ensino”, de
L. Derville, escrito em 1969, um autor até então desconhecido para mim,
encontrei um capítulo com um tema muito atraente e muito útil para nós em nosso
dia-a-dia, ou seja, como é possível influenciar outras pessoas usando técnicas
de sugestibilidade, ou seja, como podemos influenciar ou direcionar o
pensamento de outras pessoas usando alguns artifícios de linguagem, de palavras
ou até de expressões corporais.
Então, resolvi fazer e este pequeno resumo com o objetivo
de mostrar como isso se processa, não apenas para sabermos influenciar pessoas,
mas, sobretudo, para não sermos influenciados por elas.
Vamos lá então!
1. Introdução
De início, é demonstrado como as pessoas são
influenciadas quando seguem o bando e não raciocinam. Veja como isso ocorre nestes
dois exemplos:
a)
Um professor faz uma demonstração em uma aula de
química dizendo que um líquido colorido e borbulhante contido em um fraco tinha
forte cheiro. Depois disso, ele abre o frasco e pede que os alunos levantem a
mão, se sentirem o cheiro. Logo em seguida, todas as mãos se erguem. Mas o
líquido do frasco não passava de água e não tinha cheiro algum;
b)
O professor mostra aos alunos a figura de um
soldado e depois de remover a figura da sala de aula pergunta se o soldado
estava com o sabre na mão direita ou esquerda. Uns respondem que estava na
direita; outros, na esquerda. A verdade é que a figura do soldado não empunhava
sabre algum.
Verifica-se,
portanto que as pessoas não raciocinaram antes de responder aos questionamentos
e foram sugestionadas pelos professores.
2. Sugestão
Estes são
dois exemplos de sugestão. Mas, afinal, o que é sugestão? Qual o seu conceito?
Respondendo:
ser influenciado por sugestão significa aceitar
a ideia de alguém, sem raciocinar a respeito dela e sem procurar alguma prova
de que ela seja verdadeira.
Por exemplo,
se alguém está doente e dizemos, “Você estará muito melhor amanhã.”, e não
dizemos por que achamos isso, estamos sugestionando essa pessoa. Mas se ela
pergunta por que pensamos assim e como sabemos disso, então essa pessoa estará
mostrando que não é sugestionável, pois ela estará raciocinando sobre nossa
afirmação e buscando provas da veracidade da afirmação.
3.
Meios de Sugestionar
Existem
muitos meios ou modos de sugestionar alguém, mas vamos relacionar apenas alguns
deles.
a) Por
meio de uma afirmação direta, tal como “Esse homem é desonesto.”;
b) Fazendo
uma declaração de nossa atitude em relação à outra pessoa, tal como “Não
confio naquele homem.”. Não dizemos que a pessoa não é confiável, mas por nossa
atitude, fazemos com que o ouvinte acredite que a pessoa não merece confiança;
c) Fazendo
uma pergunta condutora, tal como “Reparou como o rapaz tinha ar de culpa
quando lhe perguntamos sobre o dinheiro?”. Essa pergunta põe a ideia de que o
rapaz é culpado na cabeça de outra pessoa;
d) Podemos
sugestionar até pelo que deixamos de dizer. Veja! Se alguém nos pergunta
o que pensamos sobre uma estudante e dizemos “Ela é uma moça bonita.” e não
acrescentamos nada além disso, o ouvinte pensará que nada mais além da beleza
existe na moça, ou seja, estamos dizendo que a moça não é uma estudante
dedicada;
e)
Podemos sugestionar ainda por meio de nossas ações
ou expressões como, por exemplo, quando alguém nos pergunta “Como é a
comida aqui?” e fazemos uma careta de repugnância. Certamente, a pessoa que
está nos vendo não irá nesse restaurante ou não comerá daquela comida;
f)
Podemos sugestionar ainda por meio de palavras
impressas ou figuras. São os anúncios em jornais, revistas, TV, etc.. que
nos fazem acreditar que vale a pena comprar determinada mercadoria. O exemplo
clássico aqui é o seguinte, e por sinal explorado à exaustão pelos marqueteiros:
um anúncio nos diz que certo remédio nos dará energia. Então, o médico nos traz
duas figuras: uma com a pessoa com ar de cansado e infeliz, antes de tomar o
remédio; outra, da mesma pessoa, com aspecto dinâmico e feliz, mas depois de
tomar o remédio. A empresa que anuncia o produto verifica que as vendas do
remédio aumentaram depois do anúncio, o que mostra que as pessoas foram
influenciadas pelo anúncio. Contudo, o remédio era apenas “água colorida”. Ou
seja, quando uma pessoa crê firmemente que determinado remédio lhe dá energia,
realmente se sente mais dinâmico depois de tomar o pseudo “remédio”.
4.
Efeitos da Sugestão
Pelo uso da
sugestão, usando as técnicas citadas, é possível fazer as pessoas acreditarem
em quase tudo. Podemos até fazer elas acreditarem em coisas inexistentes, se
lembrarem de coisas que não aconteceram, perceber coisas que na realidade não
perceberam.
As ações e
atitudes de uma pessoa são influenciadas pelas suas crenças, levando elas a
acreditar naquilo que se sugestionou.
Observe os
seguintes exemplos:
a)
Sugerimos a uma estudante a ela acreditar que
não passará num exame. Em face disso, ela se desinteressará do estudo e deixará
de estudar com afinco e dedicação. Não estudando, é reprovada no exame. O que
sugestionamos torna-se verdadeiro. Se não tivéssemos sugestionado a estudante,
ela teria continuado a estudar e poderia ter passado no exame;
b)
Sugerimos a uma pessoa que aquilo que ela comeu
é tóxico e lhe deixará doente. É possível que essa crença lhe perturbe de tal
forma o organismo que ela fique de fato doente, embora nada de tóxico houvesse
na comida.
Por ora é
isso. No próximo vídeo conheceremos as “Condições de Sugestibilidade”, ou seja,
em que condições ou qual o caráter da pessoa que será influenciada, e ainda,
outros tópicos importantes para a compreensão desse tema.
5.
Condições de Sugestibilidade
No vídeo
anterior, verificamos os meios pelos quais as pessoas podem ser influenciadas
pelas nossas sugestões, mas isso depende do grau de sugestibilidade de cada
pessoa para ser ou não influenciada.
De um modo
geral, se diz que as pessoas que tem um caráter fraco são facilmente
influenciáveis, mas isso nem sempre é verdadeiro.
Na verdade,
o grau de sugestibilidade, ou seja, o quanto a pessoa está propensa a acreditar
naquilo que falamos, depende não tanto do seu caráter, mas das seguintes
condições:
1)
Falta de Conhecimento: quanto mais
ignorante a pessoa, mais facilmente será presa pelas sugestões de outra pessoa.
Por exemplo, recebo a informação de um amigo de que não vale a pena perder
tempo com João, pois ele não deixará de beber. Como não conheço João, aceito a
sugestão. Se o conhecesse, não me deixaria influenciar tão facilmente pela
opinião de meu amigo;
2)
Falta de capacidade crítica: quanto menos
raciocinarmos a respeito daquilo que nos dizem ou lemos, mais nos inclinamos a
acreditar nisso. Por exemplo, um vendedor diz, tentando vender um relógio “Esse
relógio é uma pechincha, vale duas vezes o que estou pedindo”. O comprador, sem
espírito crítico, acreditará no vendedor, mas a pessoa que usa a cabeça quererá
saber por que o relógio está sendo vendido tão barato;
3)
Respeito pelo sugestionador: quanto mais
respeitamos uma pessoa, mais acreditamos nela e rejeitamos as sugestões
daquelas que não temos boa opinião. Por exemplo, geralmente não levo em conta a
opinião sobre a situação econômica de determinada empresa, se ela provém,
digamos, de meu irmão, mas se ela provém do professor de economia da escola, é
muito provável que eu me deixarei influenciar;
4)
Frequencia da sugestão: geralmente não
acreditamos numa coisa que nos é dita pela primeira vez, mas quanto mais a
ouvimos repetidas vezes, mais tenderemos a acreditar naquilo, especialmente, se
for repetida por pessoas diferentes. Esse artifício é usado com frequência nas
praças públicas de nosso país e os exemplos são inúmeros;
5)
Concordância com o sentimento das pessoas:
quanto mais a sugestão se encaixa naquilo que acreditamos, na nossa escala de
valores, mais prontamente a aceitamos. Por exemplo, se dizemos a alguém que não
gosta de determinada pessoa que essa pessoa não é correta, a sugestão será
aceita prontamente por que já havia antipatia contra essa pessoa. Mas, se
dizermos a essa mesma pessoa que seu amigo é desonesto, haverá relutância para
que ela aceite nossa sugestão. Somente se mostrarmos uma prova ela aceitará a
sugestão;
6)
Emoção: quanto mais emotivos somos, menos
usamos a razão e mais sugestionáveis nos tornamos. Um artifício é usar palavras
ou frases sugestionáveis, tal como, “Lutamos pela liberdade.”, “Defendemos a
justiça.”, “Trabalhamos pela paz.” porque essas palavras ou expressões despertam
a emoção nos ouvintes, tornando-os vulneráveis;
7)
Condição física: quanto mais fatigados
estamos, mais sugestionáveis seremos. Quando estamos cansados, somos menos
críticos e relação àquilo que nos dizem. Aqui se encaixa aqueles casos em que,
estando doente, somos presas fácil nas mãos daqueles que vendem benesses em
outros mundos;
8)
Presença de multidão: é o efeito rebanho,
ou seja, as emoções, assim como os resfriados, são facilmente apanhadas de
outras pessoas. Quando estamos no meio da multidão, facilmente incorporamos as
emoções dos que estão em torno de nós. Nos tornamos nestes casos, mais
sugestionáveis do que quando estamos sozinhos;
9)
Filiação a grupo: quando fazemos parte de
um grupo ou de uma congregação, somos afetados, pelo menos de duas maneiras:
a)
Aceitamos com facilidade a opinião e sugestões
de outros membros. Muitas vezes começamos a duvidar de nosso próprio juízo e
convicções quando outros membros do grupo tem opinião contrária;
b)
Se os outros membros do grupo não aceitarem a
opinião de alguém que não pertence a esse grupo, é improvável que venhamos a
aceitar essa sugestão, se pertencemos a este grupo.
Vemos,
portanto, que o fato de sermos mais ou menos influenciáveis depende das
circunstâncias do momento.
No próximo
vídeo, verificaremos como a sugestão pode afetar a educação das pessoas e o que
é auto-sugestão.
No vídeo
anterior, verificamos quais eram as condições da sugestibilidade e também que o
fato de sermos mais ou menos sugestionáveis depende, sobremodo, das
circunstâncias do momento.
Agora,
vamos ver como a sugestão afeta a educação das pessoas.
6.
Sugestão e Educação
As pessoas cujo
espírito crítico não esteja plenamente desenvolvido são facilmente
sugestionáveis.
Por
exemplo, um professor de uma escola sem crença religiosa pode, por sua atitude
frente à religião, sugerir aos alunos que a religião não deve ser levada a
sério.
Por isso, é
importante que os educadores e formadores de opinião sejam cuidadosos com
aquilo que dizem diante dos seus ouvintes, pois, muitas vezes, essas pessoas são
consideradas como um modelo de pessoa íntegra a ser seguido, a ser imitado, em
especial pelos adolescentes.
Quando
dizemos “Sei que posso confiar em você, porque você sempre fala a verdade.”,
estamos sugerindo que a pessoa com quem estamos falando é uma pessoa honesta.
Desse modo
é mais fácil torná-la fidedigna do que lhe explicando o valor da honestidade.
Isso não quer dizer que não devemos explicar o que é honestidade quando somos
questionados, mas o fato é que tanto as crianças quanto os adolescentes se
deixam influenciar mais facilmente pelas sugestões que lhes damos do que pelas
longas explicações teóricas.
Na verdade,
um exemplo prático e concreto, ou seja, que possa ser sentido ou visualizado,
será bem mais útil que explicações conceituais.
Por
exemplo, se alguém se acha assustado por alguma coisa, geralmente é inútil
argumentar com esta pessoa no sentido de não ter medo de tal coisa: será mais
útil por nosso exemplo e atitude, mostrar a ela, através da sugestão, a
inexistência de algo que cause medo.
Podemos
ainda melhorar a relação entre as pessoas. Observe este exemplo.
Alguém acha
que uma pessoa é convencida porque não fala com ela. Podemos mudar sua atitude
dizendo “Talvez essa pessoa tenha medo de falar com você porque imagina que
será objeto de gozação e piadinhas.”.
7.
Auto-sugestão
Assim como
podemos influir sobre o comportamento de outras pessoas, podemos influir sobre nós
mesmos por nossas próprias sugestões.
O poder da
auto-sugestão é reconhecido há muito tempo. Prestemos atenção na frase que o
Dr. Coué, um famoso médico francês, recomendava aos seus pacientes repetirem
todas as manhãs:
“Todo o dia
em tudo vou ficando cada vez melhor.” ou, de outra forma “Todos os dias, sob
todos os pontos de vista, eu vou cada vez melhor! (Tous les jours à tous points de vue je vais de
mieux en mieux!)".
O
Método Coué é
muito simples e todos nós podemos aprender a praticá-lo. Sua essência está no Controle Mental. Nele há dois
princípios básicos:
1. Só se pode pensar numa
coisa de cada vez, e;
2. Quando se concentra num
pensamento, esse pensamento torna-se verdade porque o corpo o transforma em
ação.
Foi
comprovado que, como resultado dessa auto-sugestão muitos pacientes do Dr. Coué
ficaram melhor.
Por
ora é isso. No próximo vídeo verificaremos o que é sugestão positiva, quais são
os perigos da sugestibilidade e, por fim, como a sugestibilidade deve ser usada
no processo de educação das pessoas.
No
vídeo anterior, verificamos como a sugestão é usada no processo educativo e o
que é auto-sugestão. Neste vídeo, vamos examinar o que é sugestão positiva,
quais são os perigos da sugestibilidade e como ela afeta a educação das
pessoas.
8.
Sugestão, só Positiva
Só existe probabilidade de influenciar
alguém, quando demonstramos a essa pessoa que acreditamos firmemente no que
dizemos.
Para a sugestão ser eficaz, precisamos
colocá-la de modo positivo, afirmativamente, sem titubear, evitando qualquer
palavra que possa dar uma idéia diferente da que disejamos passar.
Por exemplo, uma pessoa está aprendendo a
nadar e lhe dizemos “Não há motivo para ficar assustado. Você não se afogará.”.
Não é conveniente aproximar a palavra afogar, que transmite uma idéia de
desastre, de morte, com a palavra afogar. Neste caso diríamos simplesmente “Não
há motivo para ficar assustado, pois muitas pessoas sabem nadar desde
criancinha.”.
No caso da auto-sugestão, precisamos ainda
acreditar mais naquilo que dizemos a nós mesmos. Veja o caso de uma pessoa que
queira deixar de fumar por meio da auto-sugestão.
O que essa pessoa deve fazer é repetir
para si mesmo: “Tenho o poder de me controlar.”, e não, “Não quero outro
cigarro.”, pois se pensar assim, estará mantendo em sua mente a idéia de querer
fumar e mais tarde voltará a fumar. Portanto, o querer deixar de fumar deve
estar desvinculado de palavras como, cigarro, fumo, fumaça, etc.., ou seja, de todas
aquelas palavras que fazem lembrar o ato de fumar.
9.
Perigos da Sugestibilidade
Disso
tudo que falamos, ficou claro que “quanto mais sugestionável uma pessoa, tanto
maior é o risco representado por aqueles que gostariam de influenciá-la para o
mal”.
Somos
não só influenciado pelo pensamento de nossos colegas, mas também pelos livros,
jornais, filmes, TV, etc..
Livros e
filmes que descrevem pormenores de atos de violência podem sugerir às pessoas
ideias que mais tarde poderão ser por elas executadas. Do mesmo modo, filmes
que mostram ser empolgante o crime e heróis violadores da lei causam um péssimo
efeito sobre os mais jovens.
Devemos
procurar manter nossos filhos longe desse tipo de influência. Mas como sabemos,
dizer é mais fácil que fazer. Além disso, o simples fato de proibir atiça nas
pessoas a curiosidade inata existente nelas.
A
solução para este tipo de questão, aparentemente sem solução, é muito simples:
devemos estimular as pessoas a serem menos sugestionáveis a respeito do que
veem, leem e ouvem.
Como
fazer isso? Ensinando-as ou mostrando como raciocinar a respeito do que
estão ouvindo, lendo ou vendo.
Isso
quer dizer que devemos estimulá-las a
discutir e fazer perguntas sobre essas coisas; estimulá-las a criticar as
opiniões prontas e mostrar que existem muitas questões em que o pensamento das
pessoas é diferente.
10.
Sugestibilidade e Educação
Quando
as pessoas desenvolvem as capacidades de crítica, não mais seremos capazes de
influir sobre elas.
Esse é o
objetivo do educador, porque ele deve influenciar seus discípulos o bastante
para se desenvolverem como seres, capazes de pensar por si mesmo e fazer seus
próprios julgamentos tomando suas próprias decisões.
Portanto,
para tornar as pessoas menos sugestionáveis, devemos ensiná-las a raciocinar a
respeito das coisas que forrem levadas a acreditar.
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