sábado, 26 de dezembro de 2015

A Manipulação do Público, de Edward S. Herman e Noam Chomsky

Outra parte importante do trabalho político de Chomsky é a análise dos meios de comunicação de massa (especialmente dos meios norte-americanos), de suas estruturas, de suas restrições e do seu papel no apoio aos interesses das grandes empresas e do governo americano.

Diferentemente dos sistemas políticos totalitários, nos quais a força física pode ser facilmente usada para coagir a população como um todo, as sociedades mais democráticas como os Estados Unidos precisam se valer de meios de controle bem menos violentos. Em uma frase freqüentemente citada, Chomsky afirma que "a propaganda representa para a democracia aquilo que o cacetete (isto é, a polícia política) significa para o estado totalitário." 

Em A Manipulação do Público, livro escrito em conjunto por Edward S. Herman e Noam Chomsky, os autores exploram este tema em profundidade e apresentam o seu modelo da propaganda dos meios de comunicação com numerosos estudos de caso extremamente detalhados para demonstrar seu funcionamento. Para uma análise completa deste modelo veja Teoria da Propaganda de Chosmky e Herman.

Um viés social pode ser definido como inclinação ou tendência de uma pessoa ou de um grupo de pessoas que impede julgamentos e políticas imparciais e justas para a sociedade entendida como um sistema social integral,isto é, visto em seu todo e não apenas pela visada doa pessoa ou do grupo de pessoas.

A teoria de Herman e Chomsky explica a existência de um viés sistêmico dos meios de comunicação em termos de causas econômicas e estruturais e não como fruto de uma eventual conspiração criada por algumas pessoas ou grupos de pessoas contra a sociedade.

Em resumo, o modelo mostra que esse viés deriva da existência de cinco filtros que todas as notícias precisam ultrapassar antes de serem publicadas e que, combinados, distorcem sistematicamente a cobertura das notícias pelos meios de comunicação.

1. O primeiro filtro - o da propriedade dos meios de comunicação - deriva do fato de que a maioria dos principais meios de comunicação pertencem às grandes empresas (isto é, às "corporations").

2. O segundo - o do financiamento - deriva do fato dos principais meios de comunicação obterem a maior parte de sua receita não de seus leitores mas sim de publicidade (que, claro, é paga pelas grandes empresas). Como os meios de comunicação são, na verdade, empresas orientadas para o lucro a partir da venda de seu produto - os leitores! - para outras empresas - os anunciantes! - o modelo de Herman e Chomsky prevê que se deve esperar a publicação apenas de notícias que reflitam os desejos, as expectativas e os valores dessas empresas.

3. O terceiro filtro é o fato de que os meios de comunicação dependem fortemente das grandes empresas e das instituições governamentais como fonte de informações para a maior parte das notícias. Isto também cria um viés sistêmico contra a sociedade.

4. O quarto filtro é a crítica realizada por vários grupos de pressão que procuram as empresas dos meios de comunicação para pressioná-los caso eles saiam de uma linha editorial que esses grupos acham a mais correta (isto é, mais de acordo com seus interesses do que de toda a sociedade).
5. As normas da profissão jornalista, o quinto filtro, referem-se aos conceitos comuns divididos por aqueles que estão na profissão do jornalismo.

O modelo descreve como os meios de comunicação formam um sistema de propaganda descentralizado e não conspiratório o qual, no entanto, é extremamente poderoso. Esse sistema cria um consenso entre a elite da sociedade sobre os assuntos de interesse público estruturando esse debate em uma aparência de consentimento democrático que atendem aos interesses dessa elite.

 No entanto, este atendimento é feito às custas da sociedade como um todo que, naturalmente, compõem-se de mais pessoas do que aquelas que compõem sua elite. Uma conspiração, nos Estados Unidos, é um acordo entre duas ou mais pessoas para cometer um crime ou realizar uma ação ilegal contra a sociedade. Para os autores o sistema de propaganda não é conspiratório porque as pessoas que dele fazem parte não se juntam expressamente com o objetivo de lesar a sociedade, mas é isso mesmo que acabam fazendo em função dos vieses descritos por Herman e Chomsky em seu modelo.

Chomsky e Herman testaram seu modelo empiricamente tomando "exemplos pareados", isto é, pares de eventos que são objetivamente muito semelhantes entre si, exceto que um deles se alinha aos interesses da elite econômica dominante, que se consubstanciam no interesse das grandes empresas, e o outro não se alinha.

Eles citam alguns de tais exemplos para mostrar que nos casos em que um "inimigo oficial" da elite realiza "algo" (tal como o assassinato de um líder religioso), a imprensa investiga intensivamente e devota uma grande quantidade de tempo à cobertura dessa matéria. Mas quando é o governo da elite ou o governo de um país aliado que faz a mesma coisa (assassinato do religioso ou coisa ainda pior) a imprensa minimiza a cobertura da história.

De maneira crucial, Herman e Chomsky também testam seu modelo num caso que muitas vezes é tomado como o melhor exemplo de uma imprensa livre e agressivamente independente: a cobertura dos meios de comunicação da Ofensiva do Tet durante a Guerra do Vietnã. Mesmo neste caso, eles encontram evidências que a imprensa estava se comportando de modo subserviente aos interesses da elite.

A despeito de todas as evidências - e exatamente como propriamente predizem Chomsky e Herman - o modelo da propaganda e a maior parte dos escritos políticos de Chomsky têm sido olimpicamente ignorados ou distorcidos (e não refutados) pelos detentores dos meios de comunicação mundiais.

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