Hora do almoço.
O sol brilha, a barriga está cheia, resolvo caminhar.
Quando dou por conta, estou em frente ao Sebo onde vejo
livros em promoção.
Vasculho as antiguidades, encontro um livro do Euclides da
Cunha, um do Monteiro Lobato e outro de psicologia.
Continuo vasculhando o balaio e encontro EcceHomo, do Nietzsche.
Friedrich Nietzsche |
Lembro-me de sua espetacular obra magna Assim Falou Zaratustra e, então, resolvo dar uma bicada no livro.
Ao acaso, leio este trecho:
Importa
aqui fazer uma grande reflexão. Perguntar-me-ão porque é que contei todas estas
coisas pequenas e, segundo o juízo tradicional, indiferentes; causarei assim
dano a mim próprio, e tanto mais quando estou destinado a representar grandes
missões.
Resposta:
estas pequenas coisas – alimentação, lugar, clima, recreação, toda a casuística
do egoísmo – são muito mais importantes do que tudo quanto se concebeu e, até
agora, se considerou importante.
É
aqui justamente que importa começar, aprender de novo.
O
que a humanidade até agora teve em séria consideração não são sequer realidades, são
simples imaginações; em termos mais estritos, mentiras provenientes dos instintos maus de naturezas doentes,
perniciosas no sentido mais profundo – todos
os conceitos de «Deus», «alma», «virtude», «pecado», «além», «verdade», «vida
eterna»...
Mas foi neles que se procurou a grandeza da
natureza humana, a sua «divindade»...
Todas
as questões da política, da organização social, da educação, foram de cima ao
fundo totalmente falsificadas, porque se tomaram como grandes homens os homens
mais perniciosos – porque se ensinou a desprezar as coisas «pequenas», ou seja,
as preocupações fundamentais da vida... A nossa cultura hodierna é ambígua em
sumo grau...
Fico
pensando nos tormentos que Nietzsche sofreu por ter tido a coragem, naquela
época dominada pelos dogmas religiosos, de escrever isso, quando hoje vemos que
as pessoas, num mundo dominado pela tecnologia, não têm coragem de dizer o que
é, simplesmente, a realidade da vida.
Bem,
parece claro por que Nietzsche, diferentemente dos alienados de hoje, sempre será
lembrado!
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