Naquela manhã cinzenta de primavera,
não sei por que, resolvi pesquisar na internet sobre Carlos Reverbel, talvez
por ter lido, há muito tempo, algumas de suas crônicas na Folha da Tarde ou no Correio
do Povo.
Naquele
levantamento, verifiquei que Lopes Neto aparecia em segundo lugar, apenas sendo
superado por Viagem ao Rio Grande
do Sul – 1887, de Saint-Hilaire.
Olhando com mais acuidade essa lista
das obras, percebi que muito de nossa cultura se perdeu com o tempo e, obras
fundamentais, não estão digitalizadas e disponíveis para leitura em nossos
computadores e, pior, desaparecerão devoradas pelas traças e cupins.
Uma obra ali que me chamou a atenção
foi Antônio Chimango, do Amaro
Juvenal. Esta, talvez pela sua importância, consegui baixar pela internet e
depois fui pesquisar a biografia do autor.
Quem pesquisar por Amaro Juvenal vai
cair na biografia do Ramiro Barcelos, onde lemos que Amaro Juvenal foi o
pseudônimo usado por ele para escrever o poema campestre Antônio Chimango, hoje considerado uma joia da literatura
gauchesca, elaborado entre 1910 e 1915, em razão de uma briga política contra
seu primo Antônio Augusto Borges de Medeiros (1863-1961), então presidente do
estado do Rio Grande do Sul.
Além de extremamente sucintas as
biografias, os links das ligações externas e as referências na Wikipédia estão
desatualizados, o que é lamentável.
Acho que nossos professores poderiam
pôr seus alunos trabalhar na pesquisa bibliográfica desses nomes fundamentais que
fizeram a história de nosso estado e a atualizar seus perfis na Wikipédia,
antes que o tempo apague todo nosso passado. Quando lemos biografias em inglês,
notamos como são detalhadas e ricas em informações; parece que não temos amor
pela nossa cultura mesmo.
Pensando nisso e na pobreza de
informações sobre nosso passado, saí para o almoço e na volta, enquanto
caminhava pelo Mercado Público, tive um sobressalto quando me deparei, de viés,
com um gaúcho, trajado a rigor e com toda a pompa de nossa figura tradicional:
ali estava toda a cultura do estado, condensada numa só pessoa, pensei.
Sim, é muito frequente vermos em
nossa capital tipos trajando ao estilo gauchesco, principalmente vindos do
interior, mas este que eu estava vendo era algo diferente: caminhava com
dificuldade, usava chapéu com a aba muito larga, tinha a estatura mediana, era gordo
mas ainda demonstrava força e rigidez no corpo, tinha talvez 80 anos, usava bombacha,
botas cano longo, camisa floreada.
Seria ele o Blau Nunes ressuscitado,
pensei, enquanto lembrava essa figura mitológica descrita por Lopes Neto.
Apressei o passo, ultrapassei-o e
parei logo adiante, junto de uma parede, próximo de uma das entradas do Mercado.
Dali, naquela feição, fiquei observando
o velho gaúcho andar a passos lentos e com dificuldade em minha direção.
Então, quando ele estava bem próximo,
percebi suas feições: seu semblante era típico dos habitantes da fronteira, que
aqui na cidade chamamos de tipo criolo e que ele realmente andava com
dificuldades, quase se arrastando; sua face era cor de chocolate, talvez
amarronzada e seu andar mostrava a dureza da vida campestre.
- Esse é o último típico gaúcho,
disse para o guarda que se postava diante de mim.
Ele olhou para o gaúcho, do outro
lado, e não disse nada, apenas sorriu.
- Ele vem aqui com frequência,
perguntei.
- Não, respondeu o guarda secamente e
com segurança, mostrando que também estava intrigado com aquela estranha
pessoa.
- Acho que ele pode ser do interior,
disse, enquanto o gaúcho desaparecia, lentamente, por entre as pessoas.
- Pode ser, respondeu o guarda sorrindo.
Dei um último sorriso, olhei
novamente para o fundo do mercado tentando ainda localizar o gaúcho, mas ele já
havia desaparecido.
Olhei então novamente para o guarda e
recomecei minha caminhada, agora pensando no Martin Fierro, de José Hernández ...
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