sexta-feira, 6 de junho de 2014

Freud: Totem e Tabu - Introdução


Pode imaginar o que são mitos endopsíquicos?  São o fruto mais recente de meus trabalhos mentais.


Freud conta que seu primeiro estímulo para escrever estes ensaios veio das obras de Wundt e Jung.
Na realidade, seu interesse pela antropologia social vinha de muito tempo antes.
Na correspondência com Fliess, além de alusões gerais ao gosto sempre presente pelo estudo da arqueologia e da pré-história, há um certo número de referências específicas a temas antropológicos e à luz que a psicanálise lança sobre eles.
No Rascunho N (31 de maio de 1897), por exemplo, ao estudar o horror ao incesto, ele assinala a relação entre o desenvolvimento da civilização e a repressão dos instintos, assunto ao qual retornou no artigo sobre Civilized Sexual Ethics e, muito mais tarde, em Civilization and its Discontents.
Novamente, na Carta 78 (12 de dezembro de 1897), escreve:

Pode imaginar o que são mitos endopsíquicos?  São o fruto mais recente de meus trabalhos mentais. A obscura percepção interior de nosso próprio mecanismo psíquico estimula ilusões de pensamento, que são naturalmente projetadas para o exterior e, de modo característico, para o futuro e o além-mundo. Imortalidade, castigo, vida após a morte, todos constituem reflexos de nossa própria psique mais profunda (…) psicomitologia.

E, na Carta 144 (4 de julho 1901): 

Já leu que os ingleses escavaram um velho palácio em Creta (Cnossos), o qual declaram ser o autêntico labirinto de Minos? Zeus parece ter sido originalmente um touro. Parece, também, que o nosso próprio velho Deus, antes de passar pela sublimação incentivada pelos persas, era também adorado como um touro. Isso suscita toda sorte de pensamentos, que ainda não estão em tempo de serem colocados no papel.

Finalmente, vale a pena mencionar uma breve passagem numa nota na primeira edição de A Interpretação de Sonhos, que deixa entrever a direção da monarquia da posição social do pai de família.

Mas os principais elementos da contribuição de Freud à antropologia social aparecem, pela primeira vez, nesta obra e mais especialmente no quarto ensaio (o retorno do totemismo na infância), que contém a hipótese da horda primeva e da morte do pai primevo, e elabora sua teoria fazendo remontar a isso a origem da quase totalidade das instituições sociais e culturais posteriores.

O próprio Freud estimava muito este último ensaio, tanto no que diz respeito ao conteúdo como à forma.
Contou a seu tradutor de então, provavelmente em 1921, que o considerava como sua obra mais bem escrita.
Não obstante, o Dr. Ernest Jones informa-nos que mesmo em meados de junho de 1913, quando as provas do ensaio já se achavam prontas e após havê-lo apresentado à Sociedade Psicanalítica de Viena, Freud ainda expressava dúvidas e hesitações sobre sua publicação.
Essas dúvidas foram prontamente afastadas, contudo, e o livro permaneceu sendo um de seus favoritos durante toda a vida, recorrendo constantemente ao mesmo.
Assim, por exemplo, resumiu-o e discutiu-o com particular carinho no sexto capítulo de seu Autobiographical Study e citou-o muitas vezes no último livro que publicou Moses and Monotheism (1939).
Sobre a composição real destes ensaios, possuímos uma boa quantidade de informações, cujos pormenores podem ser encontrados no segundo volume da biografia de Freud, pelo Dr. Ernest Jones.
Freud começara os preparativos para a obra e, em particular, a leitura de grande quantidade de literatura sobre o assunto, já em 1910.
O título Totem e Tabu evidentemente já se encontrava em seu espírito em agosto de 1911, embora só viesse a adotá-lo definitivamente quando os ensaios foram coligidos em forma de livro.

O primeiro ensaio (I - o horror ao incesto) foi terminado em meados de janeiro de 1912, publicado em Imago em março seguinte e pouco após reimpresso, com algumas pequenas omissões, no semanário vienense Pan (11 e 18 de abril de 1912) e no diário Neues Wiener Journal, de Viena (18 de abril).

O segundo ensaio (II - tabu e ambivalência emocional) foi lido na Sociedade Psicanalítica de Viena, em 15 de maio de 1912, numa palestra que durou três horas.

O terceiro (III - animismo, magia e a onipotência de pensamentos)  foi preparado durante o outono de 1912 e pronunciado perante a Sociedade de Viena em 15 de janeiro de 1913.

O quarto (IV - o retorno do totemismo na infância ) foi terminado em 12 de maio de 1913 e lido para a mesma sociedade em 4 de junho de 1913.

Totem e Tabu foi traduzido em diversas línguas além do inglês, durante a vida de Freud: em húngaro (1919), espanhol (1923), português (s/data), francês (1924), japonês (duas vezes, 1930 e 1934) e hebraico (1939).
Para a última dessas traduções, Freud escreveu um prefácio especial


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